outubro 22, 2014

[Livros] Mar da Tranquilidade - Katja Millay

Título Original: The Sea Of Tranquility
Autor: Katja Millay
Editora: Arqueiro
Páginas: 368
Gênero: Romance, Ficção
País: EUA
ISBN: 9788580413250
Classificação★★★★★
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Sem palavras. Foi assim que eu fiquei ao terminar de ler a última página de Mar da Tranquilidade. Espero que vocês não percebam a dificuldade que estou tendo para escrever essa resenha. Esse foi definitivamente o melhor livro que eu li esse ano e é extremamente desafiador falar de algo que nos afeta tanto. E olha que quem acompanha o blog sabe que esse tem sido um período de ótimas leituras, mas nada - NADA - se compara ao que eu senti ao ler Mar da Tranquilidade. Foi tudo, menos tranquilidade. A narrativa mexeu comigo de uma forma inexplicável e conquistou meu coração, esmigalhando-o e reconstruindo-o página após página, capítulo após capítulo.

O livro causou sensações parecidas com as que tive ao ler Um Caso Perdido de Coleen Hoover, mas o desfecho de Mar da Tranquilidade supera tudo o que eu já pude ler na vida. Katja Millay faz conexões e ligações invisíveis que tecem um final maravilhoso e com uma única frase, inclusive a última, tudo faz sentido. Enquanto isso, ao finalizar a leitura, na vida real, nada mais faz sentido. É perfeição demais, é um livro para não se esquecer. Nunca.

Seu romance de estreia é a prova de que a autora veio para ficar e seu talento é inegável. Alternando os pontos de vista dos dois protagonistas nós percebemos como Katja construiu personalidades tão complexas e distintas entre si. Não tem como confundir Josh e Nastya, seus medos, inseguranças e fantasmas solidificaram suas histórias e a autora consegue com maestria entrelaçar seus dramas e seus corações. A narrativa fala de dor - física, psicológica e emocional. Machuca a alma saber que apesar de ser uma obra de ficção, é tão cheia de realidade. A vida nem sempre é justa e, às vezes, chega a ser cruel. É preciso encontrar um motivo para continuar, um rumo para seguir e uma mão para segurar. 

Nastya é uma jovem devastada pela dor que se rebelou contra o mundo e contra si mesma. A autodestruição é a sua forma de lidar com o que restou dela. O mistério em torno do que causou tamanho estrago na garota toma grande parte do livro, mas não é - nem de longe - o ponto mais importante da narrativa. Seu processo de 'cura', ou seu recomeço é que é a questão. Nastya recebe a oportunidade de sair do buraco em que ela mesma se enterrou, mas ela está no fundo há tanto tempo, que o sol cega seus olhos. Por diversas vezes, ela prefere se encolher na escuridão a voltar a ser quem era. É de partir o coração.

Fugindo de seu passado, Nastya decide recomeçar sua vida longe de onde tudo aconteceu, ela se torna o oposto da felicidade. Sua alegria e seu sorriso desaparecem. Envolta em preto, negatividade, ódio e raiva ela se transforma em outra pessoa. Depois do incidente, ela não falou mais, com ninguém mais. Depois do que aconteceu, ela se recusa a dizer qualquer coisa, para qualquer um. Poucos se lembram da sua voz. Na nova escola, a maldade dos outros adolescentes pouco a incomoda, ela criou um escudo tão forte em torno de si, que nada pode abalá-la ainda mais. As coisas mudam quando ela observa de longe um garoto sentado sozinho, todos os dias no mesmo lugar. Ele a faz querer falar e desperta dentro dela algo que havia morrido há muito tempo.

Josh é um adolescente cercado por tragédias, toda a sua família morreu, cada um a seu tempo, de diferentes formas. Hoje, aos dezessete anos, ele não tem ninguém. Poucos querem ser amigos de alguém que atrai tanto a morte e por isso, ele só tem o seu melhor amigo Drew. Um playboy metido, galinha, arrogante, engraçado e popular, que apesar de se comportar como um babaca na maior parte do tempo, parece ter algum coração. Isso basta para Josh. Drew é tudo o que ele tem.

As vidas desses personagens problemáticos e tão incrivelmente complexos, são expostas para o leitor da forma mais sensível e comovente e em certo ponto, seus dramas se encontram. Eles precisam ser salvos de si mesmos e talvez a amizade, a esperança e o amor possam reconstruí-los. De início, a única coisa em comum entre os Nastya e Josh é a carpintaria, disciplina eletiva que eles cursam na escola, e que os distrai da confusão, os leva para longe dos problemas e os une. 

A arte da carpintaria é também uma metáfora presente na narrativa. Ela reforça a ideia de que algo feio (como um pedaço de madeira velha ou um móvel usado, desgastado pelo tempo) pode se tornar algo incrivelmente belo de novo. Josh conserta coisas, Nastya precisa de conserto. Ela afasta todos que a amam, enquanto tudo o que Josh deseja na vida é ter de volta aqueles que ele amava. No sentido literal da palavra, os protagonistas se completam. Sozinhos, eles eram sinfonias em desarranjo, juntos eles estão estão em sintonia. 

O silêncio proposital da protagonista queria dizer muita coisa. E o meu só quer dizer que eu não consigo colocar nas palavras nem metade do que senti lendo esse livro. Vou seguir o conselho de Nastya, afinal, nada do que eu possa dizer vai ser suficiente para fazer jus à obra e por isso me calo. Que o silêncio seja toda a tranquilidade e a paz que se pode desejar. O título do livro tem uma ligação íntima com o livro e que emociona. Cada detalhe importa, o silêncio, o título, a carpintaria, a raiva, o amor. Precisa ser lido, sentido, apreciado e entendido. A perfeição se esconde nas imperfeições e os silêncios preenchem corações.

" (...) - Feliz aniversário, Flor do Dia.
- Eu desejei que a minha mão ficasse boa de novo - digo quando ele entra no carro depois de mim. Foi meu primeiro desejo e o único que importa.
- Eu desejei que a minha mãe estivesse aqui hoje, o que é idiota, porque é um desejo impossível.
Ele dá de ombros e se vira para mim, disfarçando o sorriso que sempre me conquista.
- Não é idiota desejar ver sua mãe de novo.
- Nem é tanto que eu quisesse ver a minha mãe de novo - diz ele, me olhando com a profundidade de mais de 17 anos nos olhos. - Eu queria que ela visse você." (p. 208)

Sinopse: Nastya Kashnikov foi privada daquilo que mais amava e perdeu sua voz e a própria identidade. Agora, dois anos e meio depois, ela se muda para outra cidade, determinada a manter seu passado em segredo e a não deixar ninguém se aproximar. Mas seus planos vão por água abaixo quando encontra um garoto que parece tão antissocial quanto ela. É como se Josh Bennett tivesse um campo de força ao seu redor. Ninguém se aproxima dele, e isso faz com que Nastya fique intrigada, inexplicavelmente atraída por ele.

A história de Josh não é segredo para ninguém. Todas as pessoas que ele amou foram arrancadas prematuramente de sua vida. Agora, aos 17 anos, não restou ninguém. Quando o seu nome é sinônimo de morte, é natural que todos o deixem em paz. Todos menos seu melhor amigo e Nastya, que aos poucos vai se introduzindo em todos os aspectos de sua vida. À medida que a inegável atração entre os dois fica mais forte, Josh começa a questionar se algum dia descobrirá os segredos que Nastya esconde – ou se é isso mesmo que ele quer.

Eleito um dos melhores livros de 2013 pelo School Library Journal, Mar da Tranquilidade é uma história rica e intensa, construída de forma magistral. Seus personagens parecem saltar do papel e, assim como na vida, ninguém é o que aparenta à primeira vista. Um livro bonito e poético sobre companheirismo, amizade e o milagre das segundas chances.

"- Só para você saber - eu lhe informo -, um dia eu vou me cansar de dividir o seu afeto com aquela mesa de centro e vou obrigá-lo a escolher.
- Só para você saber - ele me imita -, eu cortaria aquela mesa em pedaços e a usaria como lenha antes de ter que escolher entre qualquer coisa e você." (p. 272)

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