agosto 05, 2015

[Livros] Contos Para Uma Noite Fria - Bruno Anselmi Matangrano

Título Original: Contos Para Uma Noite Fria
Autor: Bruno Anselmi Matangrano
Editora: Vermelho Marinho
Páginas: 120
Gênero: Contos, Terror
País: Brasil
ISBN: 9788582650431
Classificação★★★★★
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O mundo surreal criado por Bruno Anselmi Matangrano dá arrepios, e não falo só do arrepio causado pelo frio dessas noites de inverno, seus contos causam arrepios de medo, perturbação e estranheza. Admiradora do trabalho de Poe, é impossível não perceber certa influência sombria do autor americano, nestes textos tão cheios de tensão. Bruno mostra seu talento e habilidade para contar boas histórias, causando no leitor as sensações mais incômodas e reais que se pode causar. Ele vai brincando com a loucura e a sanidade, como se desafiando-nos a descobrir quem vencerá. 

Há certa melancolia e solidão em suas palavras, e isso, apenas intensifica o efeito de seus contos. Em duas ou três histórias, confesso que tive medo e precisei acender a luz à noite. Terror e suspense não são os meus gêneros favoritos, mas algo na capa, na sinopse e na diagramação desse livro, me atraiu. Como uma mariposa é atraída para a luz, eu fui em direção ao tema que me é mais incômodo e perturbador e dali, não saí até terminar a leitura. 

Por ser uma antologia de contos, não pretendo falar sobre cada uma das histórias contadas neste livro. Vou falar sobre as que eu mais gostei e deixar vocês com vontade de entrar nesse mundo sombrio também. Foi difícil escolher apenas três contos, afinal, cada um deles é excêntrico à sua maneira e provocou em mim uma sensação diferente.

O Germe da Imaginação - Um conto distópico que narra uma sociedade à beira de um colapso intelectual. O conhecimento foi proibido, e portanto, a leitura. Aos poucos tudo se perde, desde os valores, até as certezas. Uma das melhores histórias que já li, definitivamente.

Mise em Abyme - O próprio termo francês já me causa arrepios: narrativa em abismo. O recurso muito utilizado na literatura e no cinema pode ser entendido como o sinônimo para a tão famosa frase de Poe: 'um sonho dentro de um sonho'. Essa mistura de lucidez e sonho dá essa sensação psicodélica de não saber o que é real. Um conto excelente, cheio de referências ao gênio Edgar Allan Poe e sua obra.

Entre o Tempo e o Espaço - O conto de encerramento da antologia está diretamente conectado ao conto de abertura. Mostrando os desdobramentos da relação tempo x espaço, esse texto encerra de forma sutil e, ao mesmo tempo, absurdamente estranha o livro. É genial, e o desfecho não poderia ser diferente. 

Preciso ressaltar a diagramação do livro que é - absurdamente - linda! Com ilustrações de Dandi, a editora Vermelho Marinho fez um trabalho fantástico separando cada conto com uma página impressa em preto e as ilustrações em branco. Deu o toque sombrio e encantador que o livro merecia.

Por fim, é um livro para observadores, questionadores, corajosos. Não é um livro de terror como outro qualquer, é um livro que fala sobre terror psicológico e que o traz a seus leitores. De forma brilhante e única, Bruno ousa fugir dos padrões, da zona de conforto, dos limites da sanidade e nos presenteia com um trabalho arrepiante, nos melhores sentidos.

"Ao professor, restava apenas os livros da biblioteca, seus sonhos e seu diário. Seu último refúgio encontrava-se em sua própria mente, onde florescia o temido germe da imaginação." (p. 28)

Sinopse: Contos para uma Noite Fria - Ao abrir "Contos para uma Noite Fria", prepare-se para entrar em um universo de histórias fantásticas, de sobrenatural, absurdo e distopia, onde sonhos se tornam pesadelos e cenários misteriosos viram delírios apocalípticos. A inquietação e o medo (do estranho ou de nós mesmos), então, ganham vida, com vários estilos e temáticas. E, apesar da diversidade – que vai da melancolia do artista a possíveis futuros e devaneios em torno de si –, um tipo específico de linha costura todas as narrativas: uma grande perturbação. E, em vez de querer escapar, você se verá envolvido por este universo tão louco quanto um mundo de cabeça para baixo.

"(...) Não havia me dado conta de que tanto tempo se passara. Talvez eu tivesse cochilado outra vez. A Lua era bela. Não de um vermelho qualquer, mas de um exótico tom cor de vinho. Os cisnes bateram as asas e voaram, assustados. Também eles não haviam notado o tempo passar. Voaram em círculos e, logo, não eram mais cisnes. Corvos enormes e agourentos tomaram seu lugar, pairando em curvas sobre mim, como se fossem abutres." (p. 88)


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