setembro 14, 2015

[Sobre] Por que meu filho precisa ler isso?


Na coluna 'Sobre' dessa semana, eu quero escrever sobre algo que me deixou indignada. Uma matéria publicada no site da Folha de São Paulo, que conta com a opinião de vários pais de alunos. O tema é literatura e, analisando mais a fundo, a interferência dos pais no desenvolvimento de seus filhos. As opiniões expressas neste texto são de minha responsabilidade e tem como objetivo questionar e expor diferentes pontos de vista. Sintam-se a vontade para discordar, concordar ou não ter opinião formada sobre, certo?

A matéria em questão fala sobre a repercussão do uso de uma versão do livro Oliver Twist de Charles Dickens que faz uso de palavrões. A leitura foi solicitada como leitura obrigatória para os alunos de 10 a 12 anos de um colégio particular. A linguagem contida no livro, segundo os pais, é imprópria. A adaptação em HQ foi publicada pela editora Salamandra e tem em sua classificação etária a faixa de oito anos. Os pais revoltados foram tirar satisfação com a escola. O resultado da reclamação não foi publicado, mas tendo em vista que se trata de um colégio particular e os pais tendem a ver isso como um direito para exigir o que 'acham certo', supõe-se que a escola fará o possível para agradar aos pais.

"Meu filho veio há uns dias falando: 'O livro que a professora pediu para ler tem palavrão'. Ele tem dez anos e veio me perguntar o que era prostituta." (relato de uma mãe)

Aqui vai minha opinião pessoal sobre esse comentário: se o seu filho aprendeu uma palavra nova e não sabe seu significado, explique para ele. Diga que não é bom usar no contexto social, explique e dê exemplos. O que não deve-se fazer é fugir de 'tabus' por não saber como conversar com seu filho. Mais cedo ou mais tarde ele iria ouvir essa palavra e se souber que os pais não querem ou não sabem conversar sobre esse tipo de assunto, o garoto vai tirar conclusões por si mesmo e isso é bem mais perigoso.

Existem pais que querem proteger os filhos, mantendo-os em uma redoma de ignorância. E aí é que está o maior do problemas, a ignorância não protege, apenas os ameaça. O mundo não é um jardim de flores sob um sol brilhante, onde as crianças andam descalças e colhem maças vermelhas. Crie seu filho para a realidade, não faça dele uma criança alienada. Dê-lhe amor e informação e ele vai aprender a se virar. Esconder o mundo real, os palavrões, as mudanças e as diferenças não vai torná-lo mais perfeito, pelo contrário. O choque de realidade na adolescência (que é o período mais conturbado) pode ser desastroso.

Em outro momento da reportagem, uma mãe ainda reclama que a mesma escola indicou 'A Culpa é das Estrelas' para seu filho. Ela também pergunta onde está Monteiro Lobato e cita 'sutilmente' a relação empresa x consumidor

"A gente paga uma fortuna nessa escola. O que ela está indicando de leitura para essas crianças? O livro conta a história de uma menina que tem câncer terminal. Por que meu filho precisa ler isso? (relato de uma mãe)

E eu mais uma vez, expresso minha opinião sincera. Seu filho precisa ler isso para que ele crie empatia, compreenda a dor do outro, conheça e aprenda a encarar uma doença que tem de 50% de chances de atingir alguém na família dele ou até ele próprio. Quanto à fortuna paga na escola, deve-se entender que há uma diferença entre escola e empresa. Apesar de haver uma relação comercial, o conteúdo pedagógico indicado não deveria sofrer interferência da opinião dos pais. 

O que vemos em demasia são pais que tem um pensamento atrasado, que querem reproduzir a educação que receberam em seus filhos, e que claramente não tem sido o suficiente. Monteiro Lobato é considerado clássico literário e Monteiro Lobato também escreveu livros impregnados do preconceito racial latente em sua época, você vai protegê-los dos cânones literários? 

O filho é seu e você escolhe a melhor forma de educá-lo, mas reflita sobre isso: Até quando seus filhos vão precisar de proteção contra o mundo exterior? Invista mais atenção do que dinheiro neles. Todas as crianças podem se tornar adultos brilhantes se forem estimuladas, não faça com que elas só conheçam o que você conheceu. Faça deles mais do que você é, faça com que elas saibam mais do que você sabe. Não limite, amplie! 

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