Uma belíssima história sobre a dor de perder, A Pequena Coreografia do Adeus fala sobre a despedida daquilo que não se vai, mas ainda assim, não permanece igual. Não há nada mais doloroso que a saudade de alguém que ainda está na sua vida, mas que, ao mesmo tempo, já se foi.
A separação dos pais e a forma como a deterioração dessa relação impacta os filhos é brutal. Aline Bei transforma a dor de ver o ideal de uma criança diminuído ao abandono do pai e a tristeza da mãe, que não consegue lidar com o fracasso de seu casamento. Com uma prosa cheia de metáforas belíssimas, a autora transforma esse sentimento de não pertencimento em um texto comovente e que é, infelizmente, altamente relacionável com muitas de nossas vivências.
Os traumas da protagonista Julia, que tão jovem recebeu a responsabilidade de ser tão madura, moldaram sua personalidade. O abandono do pai fez com que sua mãe perdesse qualquer vontade de viver, amargurada, abandonando a si própria e, consequentemente, deixando a menina mergulhada em sua própria tristeza.
Julia cresceu se sentindo um fardo para ambos, indesejada e sempre deslocada. O peso de sua criação foi assumido pela mãe - a figura estoica que fez todo o possível para que a filha se tornasse alguém diferente dela não percebendo que isso era tudo o que a menina mais queria: nunca ser como sua mãe. O pai, o clássico caso do homem que decide recomeçar outra família, como se aquela fosse descartável e só ele tivesse o direito de ser feliz.
A realidade que Pequena Coreografia do Adeus traz é impactante e, ainda assim, tão comum. É um olhar poético sobre a dor de dizer adeus a algo que se amava e ter que aceitar que aquilo nunca mais vai voltar. A despedida mais triste é dos que nunca se foram, mas que mudaram tanto a ponto de não serem mais reconhecidos por quem se ama.
Sinopse: Julia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem escritora tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares.
Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Julia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis.
Escrito com a prosa original que fez de Aline Bei uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea, Pequena coreografia do adeus é um romance emocionante que mostra como nossas relações moldam quem somos.