janeiro 20, 2021

[Livros] Análise de Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley


Clássico da literatura inglesa, Admirável Mundo Novo foi publicado em 1932 e trouxe as predições de Aldous Huxley para um futuro não muito distante do nosso presente. As ideias do autor, bem como suas preocupações, são objeto de estudo até hoje. A tecnologia como facilitadora do processo de "evolução" do homem, a fuga da realidade e até mesmo a clonagem foram abordados na distopia e a forma como esses temas se relacionam com a modernidade é o que faz desta leitura algo tão incrível.
Decidi listar alguns pontos importantes para compreender e discutir Admirável Mundo Novo:

- As mudanças trazidas pela Revolução Industrial Inglesa são grande parte do questionamento levantado por Aldous Huxley. O progresso tecnológico e industrial trouxe como consequência a desconfiança e o pessimismo de uma sociedade que se vê substituída por máquinas.

- Admirável Mundo Novo se passa na cidade de Londres em 532 D.F. (depois de Ford). O conceito de calendário cristão deixaria de existir e um novo paradigma se estabelece. Henri Ford se torna uma espécie de divindade, sendo cultuado e adorado como tal.

- Henri Ford popularizou o automóvel ao revolucionar a indústria automobilística com a fabricação em massa. A eficácia, agilidade e velocidade bem como a diminuição do custo de produção de veículos eram seu objetivo. Esse pensamento deu origem à sociedade imaginada por Huxley: criada em uma linha de produção como peças de uma engrenagem maior.

- "Oh! Maravilha! Quantas criaturas adoráveis estão aqui! Como é bela a humanidade! Oh! Admirável mundo novo em que vivem tais pessoas!" é um trecho de A Tempestade, peça de Shakespeare que inspira o título do livro. É uma forma irônica de representar esse mundo que não tem, de fato, nada a ser admirado. Num primeiro momento, o Selvagem se encanta com a modernidade e a evolução alcançada, mas ao conhecer de verdade essa realidade, percebe que nada é verdadeiramente admirável.

- Comunidade, identidade e estabilidade são o lema dessa sociedade utópica. Não existe desigualdade porque o senso de comunidade prevalece acima de tudo. Todos têm suas funções pré-estabelecidas e suas necessidades atendidas, mantendo assim a estabilidade social.

- A manipulação genética produz indivíduos de forma a atender as necessidades da sociedade. Cada um tem sua função na pirâmide capitalista. Das castas inferiores às superiores, cada um deles é condicionado a amar o que é obrigado a fazer.

- A felicidade é induzida desde a manipulação genética até o processo de condicionamento neopavloviano. Cada casta social é condicionada a temer aquilo que poderia a descondicionar. Os ýpsilons, por exemplo, temem os livros e vivem, assim, na ignorância.

- A promiscuidade é incentivada desde a infância para eliminar qualquer tipo de relacionamento afetivo. Não existem elos emocionais, ninguém sente qualquer tipo de afeição. O conceito de família é visto como algo obsceno.

- O consumismo é estimulado ao extremo, de forma que os recursos não são reutilizáveis. As pessoas trabalham para ter dinheiro e gastar com o que os mantém trabalhando. O ideal capitalista em sua magnitude. O antigo é descartável, venera-se a modernidade.

- Extingue-se o conceito de religião uma vez que não existem moléstias nessa sociedade 'utópica'. Não há mais sofrimento, portanto, deuses não se fazem mais necessários.

- O conhecimento não é estimulado. Tudo o que deve ser ensinado é aquilo que mantém o indivíduo funcional. Nenhum tipo de questionamento é incentivado. Os livros foram esquecidos e o pensamento crítico suprimido.

- Pílulas (chamadas de soma) são distribuídas às pessoas como forma de garantir seu entorpecimento. Quando sentem qualquer inquietação, se refugiam em suas drogas e esquecem qualquer problema que possam vir a ter. A fuga da realidade faz com que a felicidade se torne artificial.

- A clonagem produz indivíduos idênticos em todos os aspectos para não afetar a produtividade da classe trabalhadora. Ninguém é melhor, mais forte ou mais habilidoso que outro dentro da mesma classe social. Eliminando possíveis conflitos ou disputas.

- A liberdade é um conceito complexo que lhes é retirado, afinal, complexidade afeta o objetivo final. Quando livres para tomar decisões, as pessoas tendem a escolher mal. Condicionando-as e tirando-lhes o direito de escolha, elas são felizes com sua única opção.

- Sentimentos são selvageria. A vida é satisfatória sem grandes emoções ou decepções. A estabilidade de emoções é o ideal.

- Não se teme ou lamenta a morte, as pessoas são substituíveis. Ninguém deve ter tal importância.

- O trabalho como propósito é o que mantém a sociedade funcionando. Escalas de trabalho mais curtas fazem com que o consumo de soma aumente. É, portanto, necessário um equilíbrio entre ambos. Quanto mais tempo ocioso, maior a necessidade de fugir da realidade.

- O "Selvagem" é um homem culto, admirador das artes, questionador. Ele é fruto do Novo Mundo, mas viveu a vida toda no Velho Mundo, não se encaixando, portanto, em nenhum dos dois extremos. Não aceita o entorpecimento como forma de felicidade nem os valores que o "admirável mundo novo" lhe impõe.

- Questionar ou não se encaixar no conjunto de postulados é insanidade. Aqueles que contrariam o que se espera dessa sociedade são exilados dela. Tal medida pode ser vista como uma punição, mas é na verdade, a libertação em sua forma mais pura.

janeiro 12, 2021

[Livros] Perfeito Para O Papel - Jewel E. Ann

Título Original
: Look the Part
Autor: Jewel E. Ann
Editora: AllBook
Páginas: 324
Gênero: Romance, Ficção
País: EUA
ISBN: 9786586624120
Classificação: ★
_______________

Perfeito para quem gosta de romances clichês abusivos, o livro de Jewel E. Ann traz uma ideia que precisa ser desconstruída: a de que uma mulher tem o poder de ser redentora do homem. Esse pensamento é responsável por grande parte dos relacionamentos abusivos a que nos submetemos, por nos fazer acreditar que amor é o bastante para curar uma pessoa.

Não costumo problematizar os romances que tragam a temática de abuso quando isto fica claro e é bem abordado, mas em Perfeito Para O Papel a romantização de um comportamento inaceitável é tão óbvia e absurda que transparece em seu título. Não há nada de perfeito em tratar uma mulher feito lixo, ser grosseiro ou deselegante. Todos temos passado, traumas e motivos para ter a personalidade que temos, mas nada justifica que isso seja visto como um ideal perfeito.

É tão difícil desconstruir a ideia de que todos temos problemas e precisamos de ajuda. É por isso, que é tão problemático taxar de perfeito um homem que humilha, despreza e maltrata uma mulher por querer evitá-la a todo custo. Não é romântico, não é sadio. A mulher que se atrai por esse tipo de comportamento precisa de ajuda - e falo com propriedade, como uma dessas mulheres, em tratamento.

O romance pode ter suas cenas bonitinhas e um apelo interessante, mas o desenvolvimento fraco e problemático tiram o mérito da história. Em outros tempos talvez eu tivesse gostado dessa leitura, mas tendo enfrentado as consequências de um relacionamento abusivo, me preocupa ver esse tipo de relação sendo idealizada. Há abuso na vida real, há dor e tristeza e relacionamentos problemáticos que precisam ser retratados mas não dessa forma. Não como se houvesse alguma perfeição em ser tratada feito lixo.

Sinopse: Flint Hopkins encontra a inquilina perfeita para alugar o espaço sobre seu escritório de advocacia em Minneapolis.Todos os requisitos foram preenchidos na proposta de Ellen. As referências dela são boas. E ela é bonita.

Até... Flint descobrir que Ellen Rodgers, musicoterapeuta certificada, toca instrumentos musicais. Bongô, violão, canto – nada de Beethoven que se pudesse controlar com fones de ouvido com cancelamento de ruído.

O advogado implacável envia um aviso de despejo para a efervescente ruiva que cantarola eternamente, que é sexy demais para o próprio bem. Mas a sorte está do lado de Ellen, e Harrison, o filho autista de Flint, gosta dela à primeira vista. Um pai solteiro não pode competir com violões – e ratos. Sim, ela tem ratos de estimação. Essa mulher... Ela é irritantemente feliz e tem uma necessidade constante de tocá-lo – ajeitar sua gravata, abotoar sua camisa, invadir seu espaço e bagunçar sua cabeça.
Mesmo assim... Ela precisa ir embora.

O relacionamento de desejo e ódio progride para algo bonito e trágico. Essa sexy comédia romântica explora as coisas que queremos, as coisas de que precisamos e as decisões impossíveis que pais e filhos tomam para sobreviver.

janeiro 02, 2021

[Livros] Apaixonei-me pelo Diabo - H.D. Moreira

Título Original
: Apaixonei-me Pelo Diabo
Autor: H. D. Moreira
Editora: Viseu
Páginas: 388
Gênero: Erótico, Gore
País: Brasil
ISBN: 9786556744568
Classificação
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Uma das minhas piores experiências de leitura, não posso deixar de compartilhar com vocês minha opinião sincera sobre Apaixonei-me pelo Diabo. Sem nenhuma indicação do conteúdo pornográfico e grotesco que o livro contém, acreditei que se trataria de um romance com doses de sarcasmo, não poderia estar mais enganada.

O livro se passa quase que inteiramente no inferno, um local muito pior do que poderíamos imaginar onde sofrimento e dor são eternamente infligidos às almas para lá enviadas. Somos apresentados a inúmeros personagens (a maioria deles diabos) que tem algum tipo de perversão nojenta. O excesso de descrições bizarras da tortura e da violência sexual a que são submetidos foi o que mais me incomodou. São páginas e páginas de abuso, estupro e descrições repulsivas que me enojaram. Prefiro não dar mais detalhes pois esse tipo de escrita não é adequada ao meu conteúdo nem mesmo aos interesses dos meus seguidores.

Apaixonei-me pelo Diabo inicialmente até apresentava uma premissa interessante, mas se perdeu em sua execução. Se eu precisasse descrever o livro seria como um daqueles pornôs fetichistas grotescos. A edição está repleta de erros ortográficos e de digitação, até mesmo no rodapé das páginas o título do livro está errado. Não posso dizer que recomendo a leitura, afinal, não encontrei nada de positivo nela.

Sinopse: Anthony, um tímido e desajeitado dono de uma loja de artigos religiosos na cidade de Nova Iorque está perdidamente apaixonado pela outra face do Diabo Lucian, que é o Príncipe de um Inferno nada convencional. Uma relação e um amor impossível, mas que pode dar certo graças a uma pequena intervenção divina, pois afinal de contas, o que Deus uniu nem homem nem Diabo podem separar. Conheça agora essa história que veio para quebrar todos os paradigmas do amor.

EditoraViseu

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