junho 23, 2016

[Livros] A Escolhida - Lois Lowry (O Doador de Memórias #2)

Título Original: Gathering Blue #2
Autor: Lois Lowry
Editora: Arqueiro
Páginas: 192
Gênero: Ficção, Distopia
País: EUA
ISBN: 9788580413472
Classificação: ★

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Não é segredo que O Doador de Memórias é um dos meus livros favoritos. Consequentemente, A Escolhida, de certa forma sua "continuação", é uma leitura que carrega grandes expectativas. De forma única e característica, Lois nos leva a um futuro distópico onde apenas os mais fortes sobrevivem e nos abandona lá. Perdida nas civilizações incrivelmente geniais que a autora criou, ainda tento encontrar meu caminho de volta para casa.

A tetralogia de O Doador é contada por diferentes protagonistas que vivem em diferentes sociedades futurísticas. Cada uma dessas "colônias", por assim dizer, tem suas excentricidades e adotou uma posição autoritária para permanecer erguida após as grandes tragédias do passado. A maneira como cada uma delas lida com seus cidadãos é, no entanto, bem parecida. Os mais aptos são dignos de sobreviver, o resto e descartável. 

No primeiro e segundo volumes, Lois Lowry faz uma bonita conexão entre o conhecimento - que os membros importantes do Conselho mantém oculto da população - e as cores. Uma das expressões mais marcantes de O Doador de Memórias é justamente a habilidade de "ver além". Em uma sociedade em que as pessoas enxergam tudo em preto e branco, aquele que percebe cores detém o maior dos poderes. 

A grande metáfora da narrativa é bem clara no volume inicial e, desta vez, as cores e o conhecimento são introduzidos de maneira mais sutil. Em uma comunidade diferente da de Jonas, existem todas as cores e tons - exceto um - o azul. O fato de não haver a representação do azul não incomoda nenhuma das pessoas que ali vive, eles simplesmente ignoram o fato de que falta alguma coisa. Essa "ignorância" novamente nos conecta à grande metáfora da quadrilogia: a privação do conhecimento e suas consequências.

Kira é uma jovem aprendiz de costureira que se vê injustiçada pelos habitantes do vilarejo onde vive apó a morte da mãe. Por desejarem seus terrenos, eles denunciam a garota como uma inválida para o Conselho, tentando fazer com que ela seja sacrificada. Kira possui, de fato, um problema em uma das pernas que causa dificuldade em sua locomoção, mas para seu trabalho na costura isso é indiferente. Como a maldade e a mesquinhez ainda são parte integrante da humanidade, independentemente da época, ela é levada a julgamento. 

Numa cerimônia solene, a garota consegue um defensor, um alto membro da sociedade que, aparentemente, sabe de suas habilidades como costureira. No julgamento fica decidido que ela poderá permanecer na comunidade, mas será realocada nos aposentos mais luxuosos. De início, a jovem não entende, mas aos poucos tudo faz sentido. É uma troca e como toda troca, alguém pode ser injustiçado.

Seu dom - quase que sobrenatural - para a costura faz com que o Conselho dê a Kira a dádiva de restaurar e bordar uma túnica centenária que mostra o passado e tudo o que já existiu. Durante o trabalho, no entanto, Kira descobre um jovem entalhador chamado Thomas que trabalha, como ela, dia e noite para concluir sua função. Ambos orfãos, os dois compartilham um estranho dom artístico e, por isso, são valiosos para o Conselho.

Enquanto costura a incrível vestimenta sagrada, Kira percebe que há um grande espaço em branco para que o futuro seja bordado. A percepção da responsabilidade de escrever o futuro faz com que a orfã questione tudo a seu redor. No entanto, apesar de ter toda a matéria-prima que necessita para concluir a túnica, ela percebe que não tem linhas azuis, de nenhum tom. Com a ajuda de amigos leais, ela vai unindo os pontos para compreender seu papel em toda a trama e encontrar a cor que lhe falta.

Uma trama envolta em muito mistério e com personagens cativantes, os quais não citei propositalmente, A Escolhida tem símbolos e metáforas muito mais implícitos que seu antecessor e é, por isso, um livro mais reflexivo. Como a túnica do Cantor que conta a história das civilizações mais antigas aos poucos, Lois Lowry vai bordando cuidadosamente cada narrativa e costurando um livro ao outro com maestria. O final, assim como em O Doador de Memórias não é conclusivo e deixa muitas possibilidades e perguntas, como uma página em branco a ser completada. Mas ainda há muita história a ser contada e muitas cores que precisam ser percebidas.

"Orgulhe-se de sua dor - sua mãe sempre lhe dizia. - Você é mais forte do que aqueles que não sentem dor alguma." (p. 23)

Sinopse: Kira, uma órfã de perna torta, vive em um mundo onde os fracos são deixados de lado. A partir do momento da morte de sua mãe, ela teme por seu futuro até que é perdoada pelo Conselho de Guardiões. A razão é que Kira tem um dom: seus dedos possuem a habilidade de bordar de forma extraordinária. 

Ela supera a habilidade de sua mãe, e lhe cabe a tarefa que nenhum outro membro da comunidade pode fazer. Enquanto seu talento a mantêm viva e traz certos privilégios, ela percebe que está rodeada de mistérios e segredos, mas ninguém deve saber sua intenção de descobrir a verdade sobre o mundo.

"- É como as coisas são - respondeu Thomas, franzindo a testa. - Sempre foi assim.
Uma visão repentina invadiu a mente de Kira. A túnica. Ela mostrava como tinha sido no passado, logo o que Thomas falava não era verdade. Houve épocas muito, muito distantes em que a vida das pessoas havia sido dourada e verde. Por que um tempo parecido não poderia voltar?
- Thomas, não somos nós que preenchemos os trechos vazios? Talvez possamos mudar isto." (p. 141)


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