Autor: Ransom Riggs
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Gênero: Ficção, Contos
País: USA
ISBN: 9788551000533
Classificação: ★★★★★
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Uma peculiar extensão da história do Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, esta coletânea de contos únicos - e levemente bizarros -, reúne lendas do folclore peculiar contadas por Millard Nullings. Velho conhecido dos leitores da série, ele é um dos personagens mais importantes dos livros anteriores e se torna o narrador das histórias contidas nesse volume.
Ransom Riggs, o verdadeiro autor do livro, faz questão de causar estranheza em suas obras. Essa peculiaridade encontrada em todos os seus textos causa no leitor uma estranha identificação com a história. Apesar de não sermos gafanhotos gigantes, invisíveis, manipuladores de sonhos, ymbrynes, ilhas humanas ou princesas lagartos, somos também diferentes.
O sentimento de não pertencer a nenhum grupo, ser estranho ou avesso ao normal é algo muito presente em nossas vidas, principalmente nas dos apaixonados por livros. Muitas vezes, escapamos para mundos mais justos do que aquele em que vivemos. Mundos onde não seremos estranhos, excluídos ou perseguidos por não nos encaixarmos. A leitura é nossa fenda temporal, um esconderijo seguro para os seres peculiares que encontram nas páginas de um livro a felicidade
A coletânea traz contos incríveis e excêntricos que têm uma coisa em comum: a incompreensão do diferente. Contando histórias como a da primeira ymbryne, da princesa que tinha pele de lagarto, do garoto que controlava o mar, entre outras, nosso narrador expõe a perseguição enfrentada por aqueles que não se adequam às expectativas dos demais. Todos os personagens sofrem algum tipo de exclusão ou perseguição simplesmente por suas condições anormais.
Uma edição em capa dura diagramada de maneira absolutamente peculiar traz um efeito refinado à obra de Riggs. Resultado de um projeto gráfico muito bonito, a coletânea conta também com ilustrações magníficas de Andrew Davidson. O ilustrador tem, sem dúvidas, a peculiaridade da arte.
Narrado por um peculiar que não pode ser visto a olho nu, Contos Peculiares traz morais fortes sobre empatia, respeito e amor. Millard Nullings pode até ser invisível, mas é notável sua intenção de nos fazer enxergar o que não é aparente. Algumas pessoas apenas são mais diferentes do que outras e carregam consigo características únicas. E isso as faz peculiares e especiais.
"O livro que você tem em mãos foi escrito apenas para olhos peculiares. Se, por acaso, você não pertence à estirpe dos anômalos (em outras palavras, se nunca saiu flutuando da cama no meio da noite porque esqueceu de amarrar a si mesmo ao colchão, se nunca soltou chamas pela palma da mão em momentos inoportunos, nem nunca mastigou a comida com a boca que tem na nuca), então, por favor, devolva imediatamente este exemplar à estante onde o encontrou e o esqueça. (p. 13)
Sinopse: O livro dentro dos livros, Contos peculiares é a coletânea de contos e fábulas citada ao longo da série O lar da srta. Peregrine para crianças peculiares — o livro com as histórias que os jovens peculiares escutam sua protetora contar e recontar.
Um menino que vira gafanhoto e foge com um grupo de gansos; uma princesa com língua de cobra à procura de um príncipe com quem se casar; canibais ricos que comem braços e pernas de peculiares que têm o dom de se regenerar são alguns dos personagens dessas narrativas que há séculos povoam o imaginário dos peculiares, oferecendo não apenas valiosas lições, mas também pistas para informações secretas, como a localização exata de certas fendas temporais, por exemplo. Compilado por Millard Nullings, o menino invisível acolhido no lar da srta. Peregrine, o livro inclui surpreendentes comentários e notas, além de um desfecho alternativo para a tocante história do gigante Cuthbert, já conhecida dos leitores da série.
Inusitado, surpreendente e divertido, Contos peculiares é ao mesmo tempo um delicioso complemento e uma porta de entrada para o rico universo criado por Ransom Riggs; um verdadeiro presente para quem não resiste à magia das boas histórias.
"A primeira ymbryne não era uma mulher que podia se transformar em ave, mas uma ave que podia se transformar em mulher. (...) O pai deu a ela o nome de Ymeene, que na língua treinada dos milhafres significa 'estranha', e ela sentiu o fardo solitário dessa solidão desde que completou idade suficiente para erguer a cabeça." (p. 58)