Na coluna 'Sobre' dessa semana, eu quero escrever sobre algo que me deixou indignada. Uma matéria publicada no site da Folha de São Paulo, que conta com a opinião de vários pais de alunos. O tema é literatura e, analisando mais a fundo, a interferência dos pais no desenvolvimento de seus filhos. As opiniões expressas neste texto são de minha responsabilidade e tem como objetivo questionar e expor diferentes pontos de vista. Sintam-se a vontade para discordar, concordar ou não ter opinião formada sobre, certo?
A matéria em questão fala sobre a repercussão do uso de uma versão do livro Oliver Twist de Charles Dickens que faz uso de palavrões. A leitura foi solicitada como leitura obrigatória para os alunos de 10 a 12 anos de um colégio particular. A linguagem contida no livro, segundo os pais, é imprópria. A adaptação em HQ foi publicada pela editora Salamandra e tem em sua classificação etária a faixa de oito anos. Os pais revoltados foram tirar satisfação com a escola. O resultado da reclamação não foi publicado, mas tendo em vista que se trata de um colégio particular e os pais tendem a ver isso como um direito para exigir o que 'acham certo', supõe-se que a escola fará o possível para agradar aos pais.
"Meu filho veio há uns dias falando: 'O livro que a professora pediu para ler tem palavrão'. Ele tem dez anos e veio me perguntar o que era prostituta." (relato de uma mãe)
Aqui vai minha opinião pessoal sobre esse comentário: se o seu filho aprendeu uma palavra nova e não sabe seu significado, explique para ele. Diga que não é bom usar no contexto social, explique e dê exemplos. O que não deve-se fazer é fugir de 'tabus' por não saber como conversar com seu filho. Mais cedo ou mais tarde ele iria ouvir essa palavra e se souber que os pais não querem ou não sabem conversar sobre esse tipo de assunto, o garoto vai tirar conclusões por si mesmo e isso é bem mais perigoso.
Existem pais que querem proteger os filhos, mantendo-os em uma redoma de ignorância. E aí é que está o maior do problemas, a ignorância não protege, apenas os ameaça. O mundo não é um jardim de flores sob um sol brilhante, onde as crianças andam descalças e colhem maças vermelhas. Crie seu filho para a realidade, não faça dele uma criança alienada. Dê-lhe amor e informação e ele vai aprender a se virar. Esconder o mundo real, os palavrões, as mudanças e as diferenças não vai torná-lo mais perfeito, pelo contrário. O choque de realidade na adolescência (que é o período mais conturbado) pode ser desastroso.
Em outro momento da reportagem, uma mãe ainda reclama que a mesma escola indicou 'A Culpa é das Estrelas' para seu filho. Ela também pergunta onde está Monteiro Lobato e cita 'sutilmente' a relação empresa x consumidor.
"A gente paga uma fortuna nessa escola. O que ela está indicando de leitura para essas crianças? O livro conta a história de uma menina que tem câncer terminal. Por que meu filho precisa ler isso? (relato de uma mãe)
E eu mais uma vez, expresso minha opinião sincera. Seu filho precisa ler isso para que ele crie empatia, compreenda a dor do outro, conheça e aprenda a encarar uma doença que tem de 50% de chances de atingir alguém na família dele ou até ele próprio. Quanto à fortuna paga na escola, deve-se entender que há uma diferença entre escola e empresa. Apesar de haver uma relação comercial, o conteúdo pedagógico indicado não deveria sofrer interferência da opinião dos pais.
O que vemos em demasia são pais que tem um pensamento atrasado, que querem reproduzir a educação que receberam em seus filhos, e que claramente não tem sido o suficiente. Monteiro Lobato é considerado clássico literário e Monteiro Lobato também escreveu livros impregnados do preconceito racial latente em sua época, você vai protegê-los dos cânones literários?
O filho é seu e você escolhe a melhor forma de educá-lo, mas reflita sobre isso: Até quando seus filhos vão precisar de proteção contra o mundo exterior? Invista mais atenção do que dinheiro neles. Todas as crianças podem se tornar adultos brilhantes se forem estimuladas, não faça com que elas só conheçam o que você conheceu. Faça deles mais do que você é, faça com que elas saibam mais do que você sabe. Não limite, amplie!