Autor: Morgan Robertson
Editora: Vermelho Marinho
Páginas: 112
Gênero: Romance, Ficção, Clássico
País: EUA
ISBN: 9788582650288
Classificação: ★★★★★
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Profético e emblemático, 'Futilidade' é uma leitura - no mínimo - curiosa por ter previsto um dos maiores e mais trágicos acidentes marítimos. Narrando acontecimentos impactantes e um trágico acidente, o livro de Morgan Robertson chama atenção por falar de um navio - considerado inabalável - chamado Titan, que bateu num iceberg e afundou. As semelhanças com o trágico naufrágio do Titanic - que aconteceria quatorze anos depois - são absurdas. Além de uma crítica ao que a sociedade estava se tornando, o livro trazia também um aviso: ganância e prepotência destroem até mesmo as estruturas mais sólidas.
A arrogância dos engenheiros, mecânicos e empresários responsáveis pela construção do navio, que dispensaram medidas de segurança, levou-os a arriscar a vida dos passageiros e, por conta disso, não haviam botes suficientes para salvar a todos. Tanto no livro quanto na realidade, o Titan/Titanic eram considerados extremamente seguros até o último segundo - quando deixaram de ser.
Robertson fala sobre a influência da modernidade no comportamento e pensamento das pessoas. À época de Futilidade, o ocidente vivia um período de questionamentos. Antes inabalável, a fé passa a ser discutida e o homem começa a ver rachaduras na sólida crença em Deus. As máquinas passaram a ser vistas como absurdamente poderosas, inabaláveis, grandiosas e, consequentemente, foram endeusadas. Por meio da ficção, o autor expõe a inversão dos valores religiosos e culturais ao final do século XIX.
John Rowland é um ateu e seu posicionamento religioso fez com que ele se afastasse da mulher que amava, Myra Selfridge - uma cristã fervorosa. Por acaso, ou não, os dois acabam se encontrando na primeira viagem do Titan, ele como marinheiro e ela com sua nova família, como passageira da primeira-classe. Ao reencontrar o antigo namorado, o ódio que Myra sentia por ele, retorna, ainda mais forte e faz com que ela ordene que ele mantenha distância dela e de sua filha, também chamada Myra.
Os desfortúnios da vida, levaram John ao alcoolismo e sua fama não é das melhores, nem mesmo entre a tripulação. Ao presenciar um ato imprudente do capitão do navio, ele decide fazer o que certo e denunciar a atitude de seu superior. Para evitar que o marinheiro o denuncie, o capitão arma uma cilada para ele e tentando descredibilizar o homem, droga seu uísque. Em meio à isso, no entanto, o Titan bate em um iceberg e as coisas ficam bem mais nebulosas - literalmente. O anti-herói terá de desafiar os julgamentos da sociedade e, acima de tudo, provar que é merecedor de fé - nem que seja a das pessoas.
Nas entrelinhas, pode-se encontrar muitas referências e metáforas empregadas por Morgan Robertson para expor os tempos modernos e a transição do pensamento americano na virada do século. Desde a escolha da ambientação: um símbolo da velocidade e força da modernidade, até a neblina que envolve o navio e a trama, as curiosas mensagens subliminares enviadas pelo autor são tão enigmáticas quanto a própria profecia escondida por trás de sua história.
O final, nada menos que absolutamente brilhante, fragmenta o pensamento do leitor e faz com que ele questione a vericidade dos acontecimentos narrados, bem como os valores da época. Expondo conceitos filosóficos, econômicos, culturais e, em especial, religiosos, Robertson desafia o leitor a questionar ou não, assim como John Rowland.
"Inafundável. Indestrutível. E, justamente por isto, carregava apenas o número mínimo de botes salva-vidas necessários para satisfazer as leis. Estes, num total de vinte e quatro, estavam seguramente cobertos e atados às suas travas no convés superior. Se lançados, comportariam quinhentas pessoas. Ele não carregava jangadas salva-vidas, inúteis e deselegantes." (p. 9)
Sinopse: Futilidade ou O Naufrágio do Titan conta como o maior navio do mundo naufragou, em sua primeira viagem, após bater em um iceberg, exatamente, como viria a acontecer com o malfadado Titanic. Quem poderia imaginar que uma novela do final do século XIX se tornaria célebre por ter praticamente previsto o maior acidente náutico de todos os tempos?
Mais do que o livro que profeticamente previu o naufrágio do Titanic, Futilidade é a história de John Rowland, um ateu convicto que embarca como marinheiro no navio, e Myra Selfridge, uma jovem cristã que foi o grande amor de sua vida. Os problemas só aumentam quando um capitão trapaceiro tenta colocar tudo a perder.
Myra e Rowland encarnam, assim, os conflitos científicos e religiosos da virada do século, quando a ciência, mais do que nunca, se sobrepôs à religião. Ao leitor, resta a dúvida: teria sido coincidência ou providência?
"Lá em cima, em algum lugar que eles não sabem exatamente onde... mas em algum lugar lá em cima está o Paraíso dos cristãos. Lá está o seu bom Deus, que colocou a filha de Myra aqui. Seu bom Deus, que emprestou seu espírito selvagem e sanguinário para suas criaturas. E, logo abaixo de nós, também em algum lugar, está o seu inferno e o seu Deus mau, que eles mesmos inventaram. E dão-nos a nossa escolha: céu ou inferno. Não é assim... não tão assim. O grande mistério não está resolvido." (p. 62)