Autor: Simone Taietti
Editora: Novo Século
Páginas: 352
Gênero: Romance, Ficção
País: Brasil
ISBN: 9788542803556
Classificação: ★★★★★
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A vida. Uma infinidade de possibilidades, probabilidades e acasos. E em tudo isso, só há uma certeza: a de que estamos morrendo a partir do momento em que nascemos. Essa afirmação pode parecer dura, cruel e até mesmo pessimista, mas é a realidade. Somos criaturas ínfimas nesse universo absurdamente grande e não temos consciência de que nossa jornada pode acabar daqui uma década, um ano ou mesmo um segundo. Dizer que esse livro acabou comigo é pouco, além de me fazer chorar e soluçar, ele me fez pensar.
Se estivéssemos preparados para o fim, viveríamos plenamente. Não pensamos que o fim da jornada pode estar próximo e por isso, desperdiçamos nosso tempo, nossos sonhos e nossas palavras. A falsa ilusão do tempo não nos afasta da morte, ela nos afasta da vida. Simone Taietti nos faz pensar, questionar e observar nossa própria concepção de vida. A morte não precisa ser vista como uma vilã, nem tampouco, como uma amiga, mas ela marca o fim da jornada e não é possível aproveitar a viagem se você tem medo do destino final.
Uma Vida Para Sempre traz uma bela história de amor que desde seu início, está fadada ao fim. Os protagonistas têm doenças que podem matá-los em pouco tempo. O mais peculiar, é que todos nós estamos sujeitos a morrer sem aviso prévio, afinal, ninguém pode prever o futuro ou evitar o acaso, mas a iminência da morte, intensifica todos os sentimentos, e dentre eles o medo e o amor. Aquela velha história de que "Se soubéssemos faríamos diferente", nós sabemos, mas fingimos que não.
O casal de protagonistas não deixa de lembrar Gus e Hazel Grace de A Culpa é das Estrelas. Suas realidades, doenças, personalidades e medos, porém, em nada se assemelham aos personagens de John Green. A complexidade presente em Ethel é assustadora, sua evolução, seu aprendizado, sua força. Simone ousou construir uma personagem que simboliza tudo o que nós somos: frágeis e fortes ao mesmo tempo, com medo e coragem de seguir em frente. Essa mistura homogênea, é o que nos faz humanos, nos protege e também nos destrói.
Ethel tem uma rara condição genética chamada CIPA. A doença, que se traduz na incapacidade de sentir dor, à primeira vista pode parecer uma benção, mas aos poucos, vamos entendendo que uma vida sem dor é ainda pior. Os riscos de morte são grandes, porque qualquer pequena febre ou fratura nunca seria percebida pelo portador da doença e assim, ele morreria sem saber que estava doente. Existem casos famosos de pessoas que sofrem com a CIPA, poucos deles vivem por mais do que vinte ou trinta anos.
Protegida pela mãe, Ethel, vive praticamente isolada do mundo. Tudo representa riscos e por já ter perdido o marido anos atrás, Edith não pode arriscar perder também sua filha. Ethel tem que checar seus sinais vitais a todo momento, medir a temperatura e até mesmo fazer fisioterapia duas vezes por semana. Em decorrência da frequência de visitas ao hospital, ela encontrou lá muitos amigos, dentre eles, o pequeno Max e a divertidíssima Gertrude. Pessoas admiráveis, e confesso que a velha Gertrud foi de longe minha personagem favorita.
A garota guarda um segredo da mãe: ela pesquisa muito sobre a morte, pensa nisso todos os segundos de sua vida e quer estar preparada para o pior. Ninguém entende sua obsessão pelo fim da vida, mas Ethel apenas não quer ser pega de surpresa. Certo dia, ao visitar o amigo Max no hospital, a garota é surpreendida com a notícia de que ele não resistiu ao câncer. Ethel começa a questionar quão injusta é a vida, e como nem toda a aceitação do mundo pôde prepará-la para a morte do amigo.
Enquanto se recupera da notícia, ela acidentalmente esbarra em um garoto na ala de oncologia. Seu nome é Vitor e ele está ali para ser internado. Ele - câncer de medula, ela - CIPA, uma combinação rara e perigosa. Os dois começam a conversar e em poucos dias se tornam amigos. A dor física decorrente da quimioterapia de Vitor é aplacada pela companhia de Ethel. Mesmo sendo incapaz de sentir dor, ela percebe que se algo acontecer àquele garoto do sorriso lindo, a dor vai ser imensurável. E na escala que classifica a dor de 1 a 10, ela vai guardar o seu 10 para ele.
Em meio às rotinas hospitalares e ao bom humor dos dois, mesmo mediante às situações mais cruéis da vida, esse casal de adolescentes se apaixona e se tempo é tudo o que eles não têm, juntos eles precisam se apegar à única coisa infindável em suas curtas vidas: o amor. Juntos, eles decidem mostrar ao mundo que a vida é fantástica e curta e que mesmo assim, pode valer a pena.
Em um mundo 'saudável' a autora traz personagens doentes e talvez a intenção dela seja justamente mostrar o contrário. Dois jovens que sabem aproveitar o pouco tempo que lhes resta são, na verdade, sãos em um mundo cada dia mais doente. As críticas na voz de Ethel são claras, estamos perdendo tempo. E tempo é a única coisa que não temos. As pessoas dão valor às coisas erradas, não percebem que o seu próprio valor está se perdendo, estamos indo em direção ao fim rápido demais e nossos sonhos estão ficando para trás.
Uma Vida Para Sempre me fez chorar, muito. Eu fiquei dias pensando em Ethel e Vitor. Não é só mais uma história de amor, é um alerta, um pedido. Ethel quer abrir os olhos das pessoas e mostrar que a vida é curta e rara. Não podemos prever o amanhã, mas podemos fazer o melhor com o hoje. Se a morte é um ponto final, devemos contar uma bonita história, cheia de adjetivos e vírgulas. Assim quando a caneta tocar o papel formando aquele ponto final, podemos sorrir, sabendo que escrevemos o melhor texto de nossas vidas.
"E então, de olhos fechados, sentindo o leve cheiro de sabão na camiseta de Vitor, poderia dizer que estávamos pairando no ar, misturando-nos com as finas nuvens e tocando o céu, que a partir daquele momento passou a fazer parte de nós. Estávamos indo embora, sim.
Mas naquele momento ainda estávamos ali." (p. 192)
Sinopse: Uma vida para sempre - Ethel diz estar morrendo. Contudo, não afirma isso apenas em razão de sua doença. Talvez a única certeza de nossa existência seja a morte, o fato de que ela chega para todos. Mas nem por isso deixa de ser a maior incógnita da vida.Em um hospital, em meio à dor das histórias dos pacientes, Ethel encontrou amigos. Entre passeios em cemitérios, frequentando velórios e enterros de estranhos, ela tenta preparar a si e aqueles que ama, para o que parece estar ali tão próximo, o fim. Entretanto, não esperava enfrentar algumas surpresas que a fizessem duvidar de tal preparação.
As estatísticas ruins, a inexorável passagem do tempo. Onde reside a lógica disso que nos arranca pedaços, da súbita inexistência do que outrora era vívido e pulsante? Um corpo que jaz. Palavras que se perdem. A finitude de tudo o que é tão belo talvez seja a maior dor do mundo. Uma vida para sempre é um compilado de desejos, pensamentos e dias. Quanto dura o para sempre? Ethel descobriu.
"- (...) Gabriel García Márquez escreveu algo como 'Tomei consciência de que a força invencível que impulsiona o mundo não são os amores felizes, mas os contrariados.' Acho que impulsionamos muito este mundo Ethel - ele disse e sorriu.
Esforçou-se ao máximo para esboçar aquele sorriso, sua marca, que sabia ser meu preferido e o que mais gostava nele. Aquela ponte de sonhos que permite o contato, aquela pequena imagem que poderia congelar o tempo. Era quase uma sensação de dever cumprido.
Sorri também, oferecendo a ele o meu melhor, porque era isto o que fazíamos sempre." (p. 316)
Fonte:EditoraNovoSéculo|Skoob