Título Original: Jasper Jones
Autor: Silvey
Editora: Intrínseca
Páginas: 288
Gênero: Romance, Ficção,
País: EUA
ISBN: 9788580571707
Classificação: ★★★★★
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O livro de Craig Silvey traz uma forte crítica à essa sociedade onde todos nós somos estereotipados e catalogados como produtos numa estante de supermercado. O julgamento das pessoas acaba por definir o que você é ou deixa de ser. Sua real personalidade, seu caráter, nada disso importa. Tudo é uma questão de impressão. Quem você é de verdade é um segredo, que só você sabe. O rompimento dessas concepções acaba com a inocência do leitor, que vê nesse romance o quanto nós mesmos podemos ser ignorantes.
Há tempos um livro não me fazia refletir tanto sobre a minha própria vida. Não que eu tenha me identificado com algum personagem específico, me identifiquei mais com os ideais do autor. Silvey explora em uma narrativa de tom quase policial, um romance, um assassinato e um mistério. Aos poucos, como peças de quebra-cabeças, tudo se encaixa e o tal segredo vai trazendo ao leitor uma onda de tristeza e alívio. A sensação é de que montado, o que quebra-cabeças mostra uma imagem assustadora, e talvez seja melhor mantê-lo incompleto.
Eu poderia dizer que simplesmente simpatizei com o personagem de Jasper Jones, mas na verdade, o admirei. Injustiçado e com uma fama terrível, ele sofre por ser visto como um bandido, inútil e ladrão. Todo e quaisquer delitos fazem dele um suspeito e sem nenhuma prova, a não ser a língua enorme das pessoas, ele é condenado sem julgamento. O rapaz é visto como o marginal órfão que só traz problemas. Em uma cidade que se esconde atrás de ignorância e preconceitos, não há chance para Jasper ser nada além disso.
Quando se depara com sua namorada morta, Jasper Jones se desespera. Primeiro, porque ele não pôde salvá-la, chegou tarde demais. E segundo, porque com sua má reputação, ele logo será incriminado e mandado para a cadeia pelo resto da vida. Sem saber o que fazer, o rapaz pede a ajuda de Charlie, um garoto medroso, porém, inteligente, que certamente saberá o que fazer. O fato é que Charlie não faz a menor ideia de como livrar Jasper dessa e o fato de ter sido colocado na cena do crime, quase o leva à loucura.
Cúmplices desse segredo, os dois começam a investigar por conta própria o assassinato de Laura Wishart. O maior dos suspeitos, é por acaso, o mais temido morador da cidade. Toda a pouca coragem de Charlie será testada e ele irá aprender muito sobre amizade, superação e confiança. Enquanto a culpa consome o garoto, ele tenta seguir com sua vida, ignorando o fato de que a garota dos seus sonhos também é uma Wishart. Eliza é irmã de Laura e esconder dela o que Charlie viu naquela noite começa a ser um fardo pesado demais.
Apaixonado por Eliza, Charlie se esforça ainda mais para descobrir o que aconteceu com a irmã dela. Apaixonado pelos livros, ele tenta compreender sua própria vida à luz de grandes obras da literatura norte-americana. Dividido entre proteger o amigo e aliviar o sofrimento da menina que ama, ele acaba tendo que permanecer em silêncio. Esquecer porém, o que ele viu naquela noite na clareira é impossível. O corpo de Laura Wishart sem vida fez com que ele percebesse quão frágil é nossa existência. Esse e outros questionamentos, como a adolescência, as primeiras vezes e a superação dos próprios limites fazem de O Segredo de Jasper Jones, leitura obrigatória para os mais jovens.
Outros temas atuais e extremamente importantes foram abordados por Craig Silvey nesse livro. Dramas familiares, preconceito, racismo, injustiças sociais, paixão, amadurecimento, amizade e coragem enriquecem essa bela narrativa. O que aconteceu com Laura Wishart e como isso afeta a vida de cada um naquela cidade é um segredo, mas não é o segredo que Jasper Jones guarda.
Numa sociedade que busca culpados e condena inocentes, Jasper só não teve sorte. Ele sempre esteve no lugar errado e na hora errada. Provar sua inocência não vai salvar sua garota, nem sua reputação já desgastada, mas pode dar um pouco de paz à sua própria existência e também justiça à pobre garota sem vida.
"- Para mim é uma coisa séria confiar em você, Charlie. É perigoso. E estou pedindo a você para fazer o mesmo. Não posso forçar você a ficar quieto. Mas esperava que você pudesse ver as coisas pelo meu lado. É o que você faz, certo? Quando está lendo. Você vê como é para outra pessoa." (p. 24)
Sinopse: Numa noite, durante o intenso verão de 1965, Charlie Bucktin é acordado pela visita de Jasper Jones, o pária da pequena cidade de Corrigan, na Austrália. Seduzido pela rebeldia de Jasper, Charlie o acompanha e acaba descobrindo um crime. O segredo, compartilhado entre dois garotos tão diferentes, desperta em Charlie um turbilhão de dúvidas a respeito dos conceitos de verdade e mentira. Neste romance de crescimento, o menino franzino de 13 anos, leitor voraz, reflete sobre os acontecimentos por meio de referências a clássicos do gênero.
"- Outra coisa que nunca entendi - diz ele - é como as pessoas, tempos atrás, podiam olhar para a lua e ainda achar que o mundo era achatado. Achatado, Charlie. Veja, é isso que quero dizer sobre as pessoas acharem que são o centro das coisas. Tudo se reduz ao que elas podiam ver. Ninguém pensou que podia ser um pequeno dente numa engrenagem maior, apenas uma entre as bilhões de bolinhas que giram no espaço. Todos estavam convencidos de que tudo orbitava em torno delas, não o contrário. É loucura. Como se elas vivessem nos seus globos de neve." (p. 141)
Fonte:EditoraIntrínseca|Skoob